Zunidos, sandices, amores e refregas de um pernilongo filósofo.

Wednesday, February 27, 2008

Barriga cheia. Cabeça murcha.

Visto daqui do alto deste lustre empoeirado, o mundo anda estranho. O ar está infestado de muriçocas que me envergonham de minha própria espécie. Desinformadas e avoadas. Pernilongos que não se interessam por nada além de chupar sangue e dormir nos fios elétricos. Não lêem, não ouvem, não vão ao cinema. Vivem assim, levadas pelo vento. Quando se dão conta, seu único e longo dia de vida passou inteiro num sopro.

Diga para mim: pode haver criatura mais chata no mundo que um mosquito sem assunto? É o fim. Aquele zunzunzum sem conteúdo me mata. As muriçocas não lêem mais. Nem um breve flutuar de olhos pelos livros que os humanos fingem ler antes de dormir. A pernilongada quer mesmo é ir direto à comida. Mal a pessoa fecha os olhos, lá vamos nós, canudo em riste, rumo às veias dos homens. Eu, não. Que sou vegetariano praticante e leitor sugador. Mas os da minha casta, via de regra, estão assim, voando em círculos. Barriga cheia. Cabeça murcha.

Cada dia mais parecidos com uns espécimes de cabeça, tronco e membros que eu conheço.

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