Esse mundo é uma grande pupunha.
A memória gastronômica de um pernilongo comum é a mais apurada de todo o reino animal. Porque o universo de suas preferências alimentares é muito pequeno. Sangue e seiva. Por isso, quando prova um prato diferente, muriçoca nenhuma esquece tão fácil. O sabor inusitado gruda em sua memória como a bunda de alguns deputados se cola às cadeiras da Câmara, muitas vezes por mais de vinte anos.
Quando me tornei um pernilongo vegetariano, meu amigo Aristóteles, o Ari, uma ave vira-bosta de espantosa cultura, me ofereceu uma salada de palmito. Passei aquele mês inteiro me perguntando como havia conseguido viver até então sem aquela preciosidade. Sensacional, aquele sabor. Nunca mais esqueci.
Bom que se diga que àquela época ainda se consumia palmito de verdade. O original, de nome científico Euterpe Edules, extraído da palmeira Juçara (tinha que ser obra de mulher!).
Mas aí a ganância dos produtores, estrábicos insistindo em subtrair das palmeiras sem nada lhe dar em troca, sem investir no reflorestamento, provocou a quase extinção dessa árvore.
Então surgiram restrições absolutas ao comércio de palmito da palmeira Juçara. Conheço gente que quase morreu de tristeza. Multidões rumavam para os supermercados em busca da iguaria e nada encontravam.
Para não perder suculentas fatias do mercado-consumidor, os produtores descobriram um substituto para o original. E passaram a cultivar uma cópia do palmito. A pupunha.
Extraído das palmeiras de mesmo nome, esse palmito lembra de longe o sabor do legítimo. Mas é apenas uma tentativa. A verdade é que não existem mais palmitos como antigamente. Quem acha que ainda come salada, pastel, torta ou empada de palmito está indigestamente enganado. E comendo pupunha!
Não há mais o palmito autêntico nas mesas. O que aí está é tudo pupunha.
Mais ou menos o que acontece no mundo hoje em dia.
Não há mais nada original. Os grandes planos de governo são as mesmas tentativas de alguém tentando levar vantagem. As grandes perspectivas são repetidas esperanças de suavizar a dor em uma vida mediana. Nossas maiores preocupações são velhas formas de nos mantermos ocupados adiando aquilo com que realmente devíamos nos ocupar.
Acabou a originalidade.
Grandes seres humanos são pequenos verbetes nos grandes livros. Homens e mulheres de sentimentos largos, idéias maiúsculas, vontades extensas e espíritos longos passam longe das páginas das revistas de celebridade, das câmeras de TV. Portanto, não existem.
Não se escrevem mais grandes histórias originais. Não há cantores, compositores, músicos, artistas e nem platéias autênticas. É tudo maneirismo.
É tudo pupunha.
O que mais existe nos dias de hoje é gente conformada, com aquele discursinho sem vergonha e pseudomoderno:
“que mentira essa conversa dos mais velhos de que as coisas de antigamente eram melhores do que as de hoje...”
Essa gente precisava provar um belo de um palmito de verdade.
Quando me tornei um pernilongo vegetariano, meu amigo Aristóteles, o Ari, uma ave vira-bosta de espantosa cultura, me ofereceu uma salada de palmito. Passei aquele mês inteiro me perguntando como havia conseguido viver até então sem aquela preciosidade. Sensacional, aquele sabor. Nunca mais esqueci.
Bom que se diga que àquela época ainda se consumia palmito de verdade. O original, de nome científico Euterpe Edules, extraído da palmeira Juçara (tinha que ser obra de mulher!).
Mas aí a ganância dos produtores, estrábicos insistindo em subtrair das palmeiras sem nada lhe dar em troca, sem investir no reflorestamento, provocou a quase extinção dessa árvore.
Então surgiram restrições absolutas ao comércio de palmito da palmeira Juçara. Conheço gente que quase morreu de tristeza. Multidões rumavam para os supermercados em busca da iguaria e nada encontravam.
Para não perder suculentas fatias do mercado-consumidor, os produtores descobriram um substituto para o original. E passaram a cultivar uma cópia do palmito. A pupunha.
Extraído das palmeiras de mesmo nome, esse palmito lembra de longe o sabor do legítimo. Mas é apenas uma tentativa. A verdade é que não existem mais palmitos como antigamente. Quem acha que ainda come salada, pastel, torta ou empada de palmito está indigestamente enganado. E comendo pupunha!
Não há mais o palmito autêntico nas mesas. O que aí está é tudo pupunha.
Mais ou menos o que acontece no mundo hoje em dia.
Não há mais nada original. Os grandes planos de governo são as mesmas tentativas de alguém tentando levar vantagem. As grandes perspectivas são repetidas esperanças de suavizar a dor em uma vida mediana. Nossas maiores preocupações são velhas formas de nos mantermos ocupados adiando aquilo com que realmente devíamos nos ocupar.
Acabou a originalidade.
Grandes seres humanos são pequenos verbetes nos grandes livros. Homens e mulheres de sentimentos largos, idéias maiúsculas, vontades extensas e espíritos longos passam longe das páginas das revistas de celebridade, das câmeras de TV. Portanto, não existem.
Não se escrevem mais grandes histórias originais. Não há cantores, compositores, músicos, artistas e nem platéias autênticas. É tudo maneirismo.
É tudo pupunha.
O que mais existe nos dias de hoje é gente conformada, com aquele discursinho sem vergonha e pseudomoderno:
“que mentira essa conversa dos mais velhos de que as coisas de antigamente eram melhores do que as de hoje...”
Essa gente precisava provar um belo de um palmito de verdade.
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